Uma tasca portuguesa

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Taberna Portuguesa

terça-feira, 28 de julho de 2015

As Zeladoras

Um grande dramaturgo aqui do "nosso"  bairro no séc. XV de nome Vicente,  já nos seus autos,  descreveu as zeladoras, como as moralistas e alcoviteiras do "nosso" bairro. Essas personagens, são as senhoras de alta moral,  guardiãs do "faz o que eu digo,  não faças o que faço", o seu lema.
Donas das "verdades",  conhecedoras dos esqueletos nos armários da "sua" rua,  casadas por conveniência com apelidos e nomes sonantes,  garantem as suas públicas virtudes e disfarçam os seus vícios privados em viagens de compras a Londres ou Paris. Elas não frequentam a Tasca,  os seus maridos e sobrinhos sim. Elas frequentam o salão de chá, nome fino para a "loja" mais à direita da Tasca,  com porta e montra à sombra da torre sineira. Ao domingo encontramos-los a todos a comungar, a hóstia terá sabor subjectivo...
Aliás,  esta coisa da fé e dos valores é pessoal,  embora as zeladoras não se importem de as impor aos outros. Nisto, sabem mais que o novo pároco,  que importam valores e doutrinas face à verdadeira moral? É que para elas,  (in)felizes nos seus matrimónios de aparência, muito mais importante saber quem dorme com quem é garantir que os vícios permaneçam discretos ou mesmo secretos. As aparências assim o exigem. No fundo, importa manter fechados os armários cheios de pecados, malícias e falsa religião, sob a fechadura da virtude pública.
De vez em quando, lá, no salão de chá, entre scones, tisanas e alguma má-lingua, escolhe-se um culpado, arbitrariamente para levar (sozinho) a culpa de uma qualquer calamidade, crime ou evento negativo no "nosso" bairro. Às Zeladoras, competia encontrar o bode, responsável por um ou mais problemas, independentemente da constatação real dos fatos, e, assim, expiar os "pecados" do "nosso" bairro. Aí, a Justiça, os seus justiceiros, ou opinião das três Graças, em nome da Moral, vai tudo a eito!
Uma coisa une todas as zeladoras, a infelicidade dos outros. Não há lugar para felicidades, quando há que garantir o lugar no "céu" para todos, porque os lugares no salão de chá ou na Tasca, esses já estão reservados às tias e sobrinhos, respectivamente.
Em pleno século XXI,  poderíamos pensar que tal barrosãs da moral e dos bons costumes,  já não existiriam no "nosso"  bairro. Enganem-se os mais desatentos,  pois,  armadas de petições e argumentos, utilizadoras das redes sociais, da "influência" dos maridos e do "medo" dos sobrinhos...  Elas andam por aí!

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