Uma tasca portuguesa

Uma tasca portuguesa
Taberna Portuguesa

terça-feira, 23 de junho de 2015

O Rio

A cidade Europa tem um rio a sul. O estuário é largo. Não há ponte entre as duas margens. Na margem sul há um deserto. É um deserto muito grande. Um deserto de ideias, poesia ou economia. Um deserto sem liberdade, mas cheio de desespero. Os da margem sul querem vir para a margem norte. Na Cidade não há emprego nem espaço para todos. Dizem. Na cidade há problemas sociais e económicos, os bairros não andam bem... Mesmo as deslocações entre os bairros andam difíceis. Os bairrismos andam acicatados. É a crise. Dizem. As viagens entre as margens fazem-se através de navios especiais: os cacilheiros. Quem não tem bilhete ou passe não pode apanhar o cacilheiro. Alguns arriscam nadar, outros de chalupa ou de barco a remos. A corrente é forte. Nem sempre a polícia marítima os apanha. Os apanhados são devolvidos ao deserto. Poucos ganham direito ao passe. Muitos afogam-se. O rio corre forte, nas suas águas os corpos dos desesperados flutuam com destino ao mar.

Sem comentários:

Enviar um comentário