Uma tasca portuguesa

Uma tasca portuguesa
Taberna Portuguesa

terça-feira, 30 de junho de 2015

Negócios de água

Na Tasca, já se sabe, a bebida com mais saída é o "vinho da casa". Também se bebe água na Tasca. Mas a água é um negócio especial. Na tasca oferece-se um copinho de água juntamente com o cimbalino ou a bica. Água da torneira está visto. De garrafa, só da importada. No "nosso" bairro as águas - limpas e sujas - que entram pela torneira e saem pelos esgotos são negócio das Águas do "nosso" Bairro, AdB. As AdB são propriedade da Junta, bem, os canos são, é que a água, tal como o ar, é de todos vem da natureza, dizem. Mas isto da água, que compõe mais e 70% do corpo humano e sem a qual, parece que não se vive, tornou-se um negócio. Primeiro, cobrou-se taxas pela manutenção dos canos, depois pela gestão do sistema - complexa a montante e a jusante -, depois tornado serviço, teve-se que cobrar por isso. Tornou-se negócio. Não há negócio do "nosso" bairro que não passe pela Tasca. Assim, enquanto de bebericava um cimbalino e sorvia uma bica, ficou decidido. Tu ficas com a alta, eu com a baixa, quem paga o investimento são os Fundos Municipais, o serviço pagam os de sempre, e o lucro dividimos, um terço para mim, um terço para ti e um terço para a Tasca... O Barman anuiu, ficou decidido, os serviços de bairro viraram AdB, estas viram SA. O negócio está montado, enquanto houver chuva, só resta vender água - negócio garantido - os papalvos têm sempre sede e gostam de tomar banho!

A falência dos Serviços Sociais

Os Serviços Sociais da Junta do "nosso" bairro estão falidos, assim afirma um estudo encomendado pelo vogal da Junta com o Pelouro Social, o Dr. Motinhas. Os serviços sociais (S.S.) têm como receitas as quotas e as taxas cobradas aos utentes. Em princípio, as despesas seriam as relativas aos seus estatutos: o apoio social aos utentes. Como esta coisa da solidariedade social, normalmente não da lucro, a diferença seria coberta pelo Orçamento da Junta. Ora, acontece, que por razões históricas as despesas com o apoio social foram mais pequenas que as receitas, os Serviços Sociais, começaram a movimentar muito dinheiro, deram "lucro". Os saldos positivos foram investidos em prédios e certificados do Tesouro. Muito dinheiro. Claro está que um orçamento dos S.S. positivo sempre contrastou com o Orçamento da Junta, crónica e historicamente deficitário. No outro tempo, quando começou a "Guerra de 1908", o orçamento dos S.S. deu muito jeito à Junta... Investimentos de Tasca.
Com a democracia, tal dívida nunca foi paga, mesmo findas as guerras e continuou-se a alargar os serviços prestados. Apoiou-se utentes, familiares e amigos. Na Tasca aprovaram-se isenções e descontos. Os saldos, tal como a população activa do "nosso" bairro,  começaram a baixar. Entretanto, as modas na Cidade no tocante a serviços sociais mudaram, apostou-se nas seguradoras privadas, gerem melhor, segundo doutas opiniões está-lhes no sangue dar lucro. Assim, aumentaram-se as taxas dos Serviços Sociais, reduziram-se alguns serviços a certos utentes. Sugeriu-se aos utentes recorrerem aos privados. Os S.S. começaram também a "investir" nos negócios da Tasca. Os negócios da Tasca dão sempre lucro. Mas, o lucro tem destinatários específicos; naturalmente, os Serviços Sociais não são clientes da tasca, alguns directores é que são.
Aumentada a despesa, alargados os serviços prestados, a escolha de fornecedores e prestadores de serviços escolhidos em negócios de Tasca e os investimentos realizados, somados à debanda de pessoas dum bairro que envelhece a olhos vistos, garantem agora a "falência" do sistema. São favas contadas. 

segunda-feira, 29 de junho de 2015

A traição

O Burgomestre da Cidade, o Sr. Vulcano, sente-se traído. Não é que o malandro do Presidente da Junta do Bairro dos Helenos decidiu fazer um referendo? Depois de meses a negociar as contas e os orçamentos participativos, a Junta dos Helenos quer participação do povo? Mas que é isto??? Nunca antes se viu nesta Cidade tal desplante. Claro está que estamos todos habituados a que as decisões da Câmara ou da Assembleia Municipal sejam "ratificadas" na assembleia de freguesia do Bairro dos Teutónicos. Mas isso é uma tradição. Agora, colocar as contas a serem decididas por quem as vai pagar, tal nunca se viu! Coisa de extremistas, desses Cassetes Extremistas Coligados que gerem os destinos da Junta dos Helenos. Isto assim não pode ser! Reunam-se a Grande Tasca, o Grande Pub e a Grande Bierhaus, o assunto é sério, Estão a colocar o status quo europeu em causa. Nunca tal se viu. Ainda por mais por tão pouco. Mas porque não aceitam os Helenos uma quarentena?

Noves fora um

O Sr. Múmia gosta muito de contas. De somar quando se trata de si e dos seus. De subtrair quando se tratam de outros. Por isso, a caixa da Tasca está sempre cheia. De notas de crédito. Dizem. Nas contas  da economia moderna, o que contas são as notas de crédito e débito. não os euros. Perguntada a sua douta opinião sobre a crise no Bairro dos Helenos, fez logo a sua conta de merceeiro: "ora bem, noves fora um bairro, sobram os outros".A união faz a força, mais fraca quando sai um, desde que não saiamos nós. "Mas a economia do "nosso" bairro não é tão fraca quanto a do bairro dos Helenos'"pergunta um ignorante, ao que o Sr. Múmia responde de sobrolho: "não! aqui faz-se contas com a Tasca, aqui soma-se mais um" é o pensamento cítrico em acção! "O mal dos outros não nos toca" é uma das placas que decoram as paredes da Tasca, bem junto à do "aqui faz-se fiado, mas só a alguns".

Há problemas na Cidade

Na Cidade Europa, quando um bairro tem problemas, o Município pode ter um problemita e enviar ajuda (dinheiro, polícias, técnicos), mas o problema é daquele Bairro. O princípio Solidariedade é subalterno aos princípios do Bairrismo e da Subsidariedade. Assim, os problemas de um bairro são tratados pela Junta do respetivo bairro. Mas o que se faz quando o problema do bairro é consequência de um problema da cidade? Os do Bairro latino têm-se queixado que por terem que ser eles a resolver o problema dos migrantes do Rio, quem os manda ter a maior praia fluvial? Que interessa se os migrantes fluviais querem ir para os bairros mais a norte? O problema é de quem os apanhar primeiro. Também, a mesma "lógica" bairrista se aplica aos recentes problemas do Bairro dos Helenos. Que interessa que as dívidas dos bairro têm aumentado para pagar as dívidas aos bancos Teutónicos, ou que o desemprego e a miséria por ali grassem? Temos é que evitar que a "peste"alargue. Talvez uma quarentena, fechar os acessos ao bairro. Eles que se curem, depois, os que sobreviverem até podem voltar à cidade. É que para esta crise não há vacina que o dinheiro compre...

sábado, 27 de junho de 2015

As nomeações

Andam zunzuns pelo "nosso" bairro. O presidente da Junta anda a nomear membros do seu staff para funções públicas extra-freguesia. Os lugares no Município sempre foram mais apetitosos. São as eleições. Dizem. Começou o jogo das cadeiras, dizem outros menos entendedores da vida do "nosso" bairro. Ainda há quem estude a vida do "nosso" bairro à luz de método científico! Estrangeirados. Não entendem que aqui no "nosso" bairro, o jogo das cadeiras é  semanal, feito na Tasca ao som da música da moda. A moda da Tasca não é a moda dos bailes populares. A música é outra. Na Tasca escuta-se a boleros, cantigas de amigo e maldizer e "Pimba". Na salle privee a música às vezes é erudita, contemporânea ou internacional. Das banquetas ao balcão às poltronas da sala privada, as cadeiras e quem se senta estão determinadas pelo protocolo oficioso da Tasca. É aqui que se define o tom que determina as modas e os lugares. Depois das eleições a troca será oficial, saiem uns entram outros. Os que estão na Junta trocam lugares com os que estão na oposição. Os escritórios de advogados e consultores especialistas no bairro, renovam-se.  Vira-o-disco e toca o mesmo. Assim gira a vida no "nosso" Bairro.

Referendo

A cidade está em alvoroço! Não é que os Helenos, nesta coisa dos orçamentos participativos quer que o povo do seu bairro participe votando? Ora, ora, querem referendar o que é decidido nos Paços do Concelho. Mas que é isto? Que democracia é esta? Vamos ver agora o povo a decidir coisas? Isso é condicionar os democraticamente eleitos!?! Cá no "nosso" bairro não há nada disso. As grandes decisões sempre se tomaram na Tasca. Ali é que se percebe bem o verdadeiro sentimento do povo e do "nosso" bairro. Haverá melhor democracia do que a oleada a "vinho da casa" renovada pelo jogo das cadeiras e sustentada no negócio do "favor"? A democracia de Tasca é uma conquista do "nosso" bairro!

sexta-feira, 26 de junho de 2015

South Side

No lado sul do "nosso" bairro há uma zona composta por lugares e ruas onde habituam muitos dos que trabalham pelos lados da Praça Central. Essa zona está separada do resto do "nosso" bairro por um riacho, todos os dias, muitos atravessam as pontes que unem ambas as margens. A habitação é mais económica do outro lado do riacho, foi uma zona muito industrializada, agora é mais dormitório de quem trabalha no centro do "nosso" Bairro. Tem muita gente e muitas tradições. Há quem goste e há que despreze, há uns anos ouve quem lhe chamasse a "nossa" margem sul, o "nosso" deserto. Gente arrogante e elitista. Gente que não percebe que da dinâmica social resulta dinâmica cultural. Vivem aí muitos Cassetes, todos sabemos a tendência que estes têm para as artes do espectáculo, verdadeiros dinamizadores culturais, promotores do maior e mais antigo Festival do Avance. Do outro lado do riacho há história, cultura e boa gente. Querem os locais aumentar o turismo, aproveitar desta moda da "estrangeirada" de vir ao "nosso" bairro. Como nem todos os turistas falam o bairrês, decidiu-se chamar a velha zona com um nome chic e cool é o South Side.

A greve Avança!

Mais uma greve nos subterrâneos, é normal. Há quem faça férias, outros fazem greve - ambas são pagas. Há sindicatos ricos. Os utentes é que se lixam... Embora sempre com o seu superior interesse em causa. Na Junta afirma-se que para a semana já Avança um novo modelo. Em breve nos subterrâneos e nas linhas de transporte público (mas concessionado) um novo serviço, um novo TAB. Com gestão privada parece que as greves terminam. Coisas de sindicância. Na Tasca serve-se cerveja e tremoços, também margaritas e tacos. É a alta cozinha internacional. Ano de eleições é mesmo para avançar!

O gato da ruela

No "nosso" bairro há tradições "engraçadas e catitas", muitas têm a ver com animais. Agora saiu um vídeo do chamuscar do gato numa das ruelas. É uma tradição da ruela, como há outras tradições noutras ruas e lugares desde "nosso" bairro, umas com vacas outras com bois ou outros animais... Naturalmente, os defensores dos animais de quatro patas elevaram os seus protestos. Há animais de duas patas que não vivem melhor, mas isso não interessa à discussão. Os de quatro são especiais, em especial os domesticados pois fazem companhia e alguns até têm pedigree. A maioria, os de duas patas e de quatro com pedigree comem partes de outros animais. É o ciclo da vida. Dizem. Mas voltando ao gato: não é que chamuscam os gatos? Parece que noutra rua atiram o pau a um cão. Tradição para uns, atos bárbaros, gritam os civilizados. Os moços da Esquadra já abriram as investigações.  Alguém há de ser castigado... nem que seja um bode! Tudo isto é bom para o turismo. Voyeurs há em todo lado. Nem todos se ficam pelos videos. Enquanto isso lá na Margem Sul decapitam turistas, aqui na Cidade gatos vadios e sem-abrigo vasculham os caixotes por uns restos... cambada de vira-latas!

O grupo de Seth

Fora da Cidade, há um grupo de nómadas, são o grupo de Seth. Cultuam valores e princípios antigos. Têm convicções fortes, há quem os chame de fanáticos. Em nome do seu Deus, promovem a guerra. O seu alvo maior é a Cidade e a sua civilização. Enquanto se passeiam na margem sul, os da Cidade sentem-se seguros. Sempre houve nómadas no deserto. Os valores são antigos, mas as armas modernizaram-se. Ficaram com as armas dos exércitos aliados da Cidade e dos seus mercenários. São guerreiros temíveis, não lutam por dinheiro. Têm conquistado as vilas da margem sul, uma a uma. O rio enche-se de gente que lhes foge. Muitos afogam-se. Os citadinos pretendem ignorar que o objectivo do grupo de Seth é tomar os bairros do sul da cidade e destruir os do norte. Acreditam que os bairros têm museus e bibliotecas a mais. Para estes crentes, só um livro importa. Entretanto na cidade, discute-se orçamentos participativos e o problema dos afogados. Deus nos guarde!

O impasse

A Europa está parada! Não, não é o trânsito, é a liderança e o bom-senso que entraram num beco, aparentemente sem saída. As discussões em volta dos orçamentos participativos do Município estão a bloquear a solidariedade entre Bairros. A desculpa são os Helenos. Desorganizados, preguiçosos e aldrabões chamam-lhe os bairristas. Em causa os dinheiros municipais, a estabilidade da moeda, as dívidas daquele bairro aos outros e ao Banco da Cidade. O bairrismo está ao rubro. Há eleições para algumas Juntas, há que defender os interesses do "nosso" bairro. Pedro dos Lobos e a Menina Trocas têm feito o seu papel. Empurram-se todos os prazos. Fazem-se estórias. Uns crêem estar a fazer história,  enquanto se escreve uma tragédia grega. O coro, ouve-se nos média. Os líderes da Cidade aparentemente estão surdos. Caminhamos para a catarse da Cidade? Só os Deuses saberão...

A outra moeda

No "nosso" bairro há uma moeda para além do Euro. É uma moeda que tem duas faces e aceitação em quase todos os lugares. Na cara temos o "favorzinho", empregos, negócios, burocracias, resolvem-se pela palavra certa à pessoa certa. Negócios de Tasca. Uma mão lava a outra, dizem. Assim, as coisas resolvem-se entre as pessoas do "nosso" bairro. Mas, tal moeda tem uma outra face, a da ingratidão. Feito o "favor" porque se há de ficar eternamente agradecido? Uns fazem-nos - uma minoria - outros, preferem, logo que possível esquecer a cunha, o ganho ou o deferimento. Não fica bem passar na Praça Central e reconhecer perante tudo e todos que se deve algo a alguém. Quanto mais se sobe na escada social, mais se esquece os "favores" aos de baixo. É a outra face da moeda: a coroa da ingratidão. Mas isto é nas ruas e nas praças do "nosso" bairro. Na Tasca a regra é outra. Na tasca há conta-corrente. Os favores são contabilizados, ao balcão registam-se. E se uns, porque já comem à mesa da Tasca, se fingem esquecidos. Alguns até parecem pagar em ingratidão. Mas ingratidão é paga com juros. Um dia, não se sabe quando, serão lembrados do verdadeiro deve e haver. Os verdadeiros credores e devedores  estão todos lá, todos bebem do "vinho da casa". As dívidas relembram-se ao som do jogo das cadeiras.  Na Tasca os negócios fazem-se há muitos séculos. É a tradição.  

quarta-feira, 24 de junho de 2015

O Pessoal Janota

No "nosso" bairro há uma corporação distinta. São o Pessoal Janota. Os grandes defensores da ordem privada. A sua ligação à Tasca é umbilical. Têm a sua sede na Rua da Veterinária. São instalações novas e modernas. Até têm helicóptero! A eles compete comprovar. Quando a Arquivadoria do Bairro quer ver algo arquivado ou acusado, recorre aos serviços do Pessoal Janota. Janotas para os amigos e inimigos. Tal corporação é especial, algum do seu trabalho é feito na Secção de Informação Sigilosa, a Secção tem a sua sede nas traseiras da Tasca. Usam muitas vezes a porta de serviço, nunca perdendo o seu aprumo. Garantem a estabilidade do "nosso" bairro sabendo quase tudo sobre quase todos. Saber é o seu trabalho. Saber mas não fazer. A informação gere-se. Por vezes é preciso agir, e em carros apreendidos ou comprados há uns anos, lá vão eles pelo bairro com a luzinha a apitar, vão deter algum fugitivo em potência. Ninguém sai do "nosso" bairro se a Tasca não quer.  O resto das investigações compete aos moços da Esquadra, são eles que defendem a ordem pública. Em questões de Tributo a competência é da Repartição. Quando há fumo, há fogo e por vezes os criminosos em potência têm de ser detidos, pois há que investigar todos os cabritos roubados. A tudo aplica-se o Princípio da Precaução no "nosso" bairro. Assim é mais fácil manter as estatísticas e o "glamour" da corporação, serão 90%, pois, as condenações? O Tribunal saberá. A Tasca também.

Os Fundos Municipais

O "nosso" bairro há muito que vive dos "Fundos Municipais". Antes tinham sido os comércios internacionais, as receitas dos impérios ou mesmo as transferências dos nossos migrantes. Agora são os Fundos Municipais, os FM. Há muitos FM. A nível Municipal, temos os FM de gestão directa do Município: são aqueles que temos de nos candidatar aos Paços do Concelho; e os FM de gestão indirecta Municipal, cuja atribuição está entregue às Agências e/ou Serviços Municipais. A nível local também há FM. Os de gestão directa da Junta - que os protocolou com o Município, ou os de gestão indirecta, i.e. cuja administração cabe a agentes suportados pelo Município mas nomeados pela Junta. Em todos estes FM, a Tasca é sempre ouvida. Em relação aos FM de nível municipal é ouvida a Tasca e os Grandes ( a Grande Tasca, o Grande Pub ou a Grande Bierhaus) - sobre a qual um dia escreveremos (deixem-nos os Janotas).
A nível do "nosso" bairro é mais fácil perceber os fluxos. Basta sentar-nos um dia ao balcão da Tasca. Os FM são geridos todos por gente honesta, nomeada pela Tasca, por concurso ou nomeação da Junta. Estes de confiança, são gente com muita experiência, nomeadamente em candidaturas a anteriores FM ou pelo menos são familiares de quem perceba do negócio. Com essa experiência, eles aprovam em comités (do qual fazem parte "independentes", escolhidos na Tasca) os projectos. Todos sabem que só as candidaturas perfeitas nos termos regulamentares podem ser aprovadas (infelizmente, há umas muito boas que normalmente têm de ser "não admitidas" por estranhamente nunca virem com anexos). Depois há umas que já se sabe que são chumbadas (é uma questão de qualidade). Mas não há problema, o chumbo de hoje é a aprovação de amanhã. Isto, claro, se convir ao superior interesse do "nosso" Bairro, i.e. da Tasca.
Depois de aprovadas as candidaturas é preciso que os FM sejam gastos. Os FM são pagos em tranches. Com a primeira fazes o "projecto". Não interessa quando e como, nem o porquê, têm é de ter a respetiva factura. Os resultados desde que no relatório sejam iguais ou têm superado o previsto em candidatura são garantia do pagamento da última tranche. Naturalmente, convém ao projecto que o Presidente ou qualquer Vogal da Junta estejam na cerimónia do início ou no fim do mesmo, não se podem perder oportunidades de fotografia em períodos de crise! A última tranche, acabado o projecto é para pagar dívidas.
Os FM são muito importantes,  garantem a actividade social, cultural e juvenil do "nosso" bairro, pois o orçamento da Junta há muito que se resume à actividade económica do "abre e fecha buracos". Para haver candidaturas é preciso assessores, para as avaliar e auditar também. Portanto, as assessorias estão cobertas pelos FM. Se não fossem os FM haveria muita gente sem capacidade económica de frequentar a Tasca e pagar a conta. Graças ao Barman, a Tasca faz fiado.

Déficit

Hoje foi dia de contas no "nosso" bairro. Já estamos habituados aos números no vermelho. Os números da Junta há muito que estão no vermelho. A novidade é sempre a %. Uns dizem que vai subir outros que vai diminuir, depende da visão ou da aposta. Sim, há quem aposte se sobe ou desce. Há também quem negoceie em títulos de dívida da Junta. Dá dinheiro, para quem percebe de percentagens. Negócios que se fazem lá na Tasca. A dívida tem aumentado. Mas é sustentável, afirmam uns, não é para pagar é para gerir afirmam outros. Também há quem diz que não é para pagar. As opiniões dividem-se no "nosso" bairro. As divisões criam dúvidas e as dúvidas criam dívida, é um circulo. Onde há dívida, há juros. Os agiotas também precisam de comer. Todos comem na Tasca.

Os Transportes Autónomos do Bairro

Os Transportes Autónomos do Bairro, TAB na gíria, são a empresa que resultou da "unificação" do eléctrico, dos autocarros e do teleférico do "nosso" Bairro. É uma empresa que o a população está habituada a utilizar. A cada Bairro o seu serviço de transporte. O problema está que tais empresas não costumam dar lucro, pelo menos em alguns bairros. Os investimentos são caros. A eletricidade e o gasóleo são importadas. A manutenção do material circulante é cara e, para ajudar, os salários dos trabalhadores são elevados. Não há passe social que resista. A bilheteira não cobre as despesas. Dizem. Os TAB já foram privados, geridos pelos do Bairro Albion, depois a Junta nacionalizou-os. Com os subsídios do Município, a rede alargou-se e modernizou-se o material. Mas as greves, ai as greves. O povo fartou-se de pagar passe social para tanto dia a chegar atrasado a pé ou de taxi. Dizem. Entretanto, a Junta decidiu privatizar a TAB. Fez-se um concurso. Da Cidade ninguém concorreu. Os outros bairros não estão interessados. Apareceram concorrentes do outro lado do mar. A negociação foi feita. A Tasca deu o seu parecer. Vendeu-se. O preço e o contrato são confidenciais. Alguns estranham o interesse de privados num negócio que dá prejuízo. O Pensamento Cítrico confia na "iniciativa privada". O povo aguarda se os bilhetes irão aumentar, se as rotas irão diminuir, se alguns serviços irão fechar e quantos irão ser reformados ou despedidos. Os sindicatos depois de meses de greves e protestos calaram-se. Hoje assinou-se a venda no salão nobre da Junta. Amanhã, a vida no "nosso" bairro continuará a passar pela TAB.

terça-feira, 23 de junho de 2015

O Chico dos Peixes

O Chico, Chiquinho para os amigos, Dr. Francisco dos Peixes para os seus funcionários, é um dos tubarões cá do "nosso" Bairro. Herdou uma cadeia de peixarias, hoje é dono de uma cadeia de Supermercados. Não há Rua no Bairro que não tenha um mini ou supermercado da cadeia dos Peixes Doces. É uma das maiores fortunas do "nosso" bairro. Tem direito a sala privada na Tasca. Apesar de ser dono de uma das maiores casas do bairro tem domicílio fiscal noutro bairro. Mais precisamente no Bairro Laranja. É um dos praticantes do Pensamento Cítrico. Na época da sardinha decidiu comprar o Aquário do Bairro. A Junta há muito que queria despachar tal negócio lucrativo. À Junta cabem os negócios ruinosos. É o Pensamento Cítrico em acção. O amor do Chico dos Peixes é grande. Agora é dono do maior aquário da Cidade, junto ao Rio. Ganha o Bairro dizem, podem ver os peixinhos no Aquário e se quiserem levar para casa, compram-no fresquinho no Peixes Doces. Todos os dias do ano (incluíndo Domingos e feriados), sem talões ou promoções.

A Rua do Porto

A maior rua do "nosso" bairro é a Rua do Porto, mesmo que não seja verdade em termos de metros, é-o de facto em especial nos espíritos dos seus habitantes. Tem esse nome, por sede do lado marítimo do Bairro. Faz frente ao mar que banha a cidade e liga ao Porto marítimo. É uma rua com muita história e com uma vida própria. O seu quotidiano é de gente habituada a trabalhar, o seu porto marítimo é um "hub" como agora se costuma dizer, ali entram e saem as mercadorias que alimentam a Cidade e em especial o Bairro. O porto da Rua do Porto é mais importante que o porto fluvial lá em baixo no "nosso" bairro. A economia do "nosso" Bairro passa por aqui. Aqui o vinho da casa é substituído pelo aperitivo da casa. Hoje é um dia especial na Rua do Porto, é o dia das fogueiras de S. João. Um ritual do tempo dos pagãos. Celebra-se o Solstício de Verão, queimam-se os  pecados passados e salta-se para dias de maior Luz. São coisas de iniciados. Também na Tasca se celebram os baptismos. Na Rua do Porto o povo festeja, come sardinhas, manjericos e martela-se nas cabeças. Viva o São João!

O Rio

A cidade Europa tem um rio a sul. O estuário é largo. Não há ponte entre as duas margens. Na margem sul há um deserto. É um deserto muito grande. Um deserto de ideias, poesia ou economia. Um deserto sem liberdade, mas cheio de desespero. Os da margem sul querem vir para a margem norte. Na Cidade não há emprego nem espaço para todos. Dizem. Na cidade há problemas sociais e económicos, os bairros não andam bem... Mesmo as deslocações entre os bairros andam difíceis. Os bairrismos andam acicatados. É a crise. Dizem. As viagens entre as margens fazem-se através de navios especiais: os cacilheiros. Quem não tem bilhete ou passe não pode apanhar o cacilheiro. Alguns arriscam nadar, outros de chalupa ou de barco a remos. A corrente é forte. Nem sempre a polícia marítima os apanha. Os apanhados são devolvidos ao deserto. Poucos ganham direito ao passe. Muitos afogam-se. O rio corre forte, nas suas águas os corpos dos desesperados flutuam com destino ao mar.

As Negociações

A Cidade está um rebuliço! Eis as negociações para os orçamentos participativos nos bairros. O município vai distribuir verbas. Os bairros mais dependentes do orçamento municipal, entre os quais o "nosso" já estão em alvoroço. A Tesoureira da Junta não há dia que não vá aos Paços do Concelho. São as negociações. As rivalidades sobem de tom. As diferenças de cor partidária também. O executivo municipal é da mesma cor da Junta. São Citrinos. Outros bairros, como o dos Helenos, são de outras cores. Não bebem laranjada, servem-lhes limonada. Coisas de protocolo. São negociações ácidas, os bairros do sul discutem os tostões, os do norte, os milhões. O Sr. Cervejazinha é o Tesoureiro do Bairro dos Teutónicos, a junta mais influente da cidade, é determinante. A menina Trocas é muito amiga do Sr. Cervejazinha, é conveniente. Quanto menos o municipio der aos Helenos, mais sobrará para o orçamento da "nossa" junta. Pensamento cítrico.

A inveja

No "nosso" bairro há quem diga que há inveja. Somos muito autocríticos, talvez resultado da displicência orientada para objectivos particulares que nos caracteriza, mas - bem observado - não somos invejosos. Comentamos e observamos o que os outros têm e não têm; sim é uma forma de avaliação, no fundo aqui no "nosso" bairro estamos habituados a pouco ter. E, já se sabe, quando pouco se tem há que saber como pairam as modas. Logo, o que os vizinhos têm é a referência. Se têm dois carros, uma mota e férias nos outros bairros, passa a ser objectivo do nativo ter dois carros, uma mota e férias lá fora. Claro, está que nem sempre ganham o mesmo, ou têm o mesmo plafond de crédito, quando tal acontece temos o caldo entornado. Nascem tensões e frustrações. Por isso, quando alguém tem mais dos que os seus vizinhos, dita a tradição que deve mudar de rua. Assim, se mantém o equilíbrio social no. Quando o que temos e não temos passa a estar nas bocas do "nosso" bairro, já sabemos, é altura de mudar de rua.  Na Tasca também não há invejas, pois dita a hierarquia e o protocolo, quem entra, onde se senta e o que pode pedir do menu. Tudo o mais é coisa de gente de fora que não percebe do "nosso" quotidiano.

A Repartição

A Repartição é o órgão administrativo e de polícia mais importante - os Janotas que não ouçam isto! -  do "nosso" Bairro. Investiga tudo e todos. O pessoal da Repartição não tem de sair do serviço, os cidadãos do bairro é que ali se deslocam. São tantos e o respeitinho é muito que o sistema é de senhas. Desde que o Município deu uns subsídios, a Repartição modernizou-se, é tudo electrónico, todos têm computador e a Repartição passou a ter página de internet. É o futuro. Assim, a população do "nosso" bairro já pode pagar o Tributo a partir de casa. Lojas, escritórios e armazéns, todos estão ligados à Rede. Assim, na Repartição eles sabem quase tudo. Quase, porque há coisas que se passam só na Tasca. O pessoal da Repartição frequenta a Tasca, mas só de chefe para cima. Os restantes, às vezes passam lá para beber uma bica, mas só isso. Há que manter o respeitinho. Algum do pessoal da Repartição vêm do "outro tempo" e a antiguidade é um posto. São métodos e metodologias que mantêm o respeitinho pela Repartição e o pagamento do Tributo. O Tributo nos últimos tempos aumentam - e muito! - para manter o "nosso" bairro na linha, criaram-se os e-serviços, modernices. Em troca, oferecem carrinhos de linha feitos no bairro dos Teutónicos. A Repartição, oficialmente, só responde perante o Município e o Tribunal do Município, mas todos sabem que é na junta, ouvida a Tasca, que se nomeia o chefe da Repartição.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

As três graças

No Tribunal do "nosso" Bairro há três juízas. São amigas de longa data. Terão feito o curso na escola judiciária ao mesmo tempo. Às vezes trabalham em conjunto, em especial quando há colectivos, mas é raro, costumam é trocar impressões à hora do almoço. Não há processo enquadrado pelos Janotas que não tenha o seu dedo. Almoçam sempre juntas. Nem sempre almoçam na Tasca, excepto à quarta-feira, dia de cozido. É certa a sua presença nesse dia, no Tribunal é dia de instrução. São elas as casadas Dra. Morosa, a Dra. Palradora e a solteira Dra. Sabidona. A Dra. Morosa é casada com um Arquivador, amor de faculdade. A Dra. Palradora é casada com o famoso jornalista do Pasquim Matinal. A Dra. Sabidona preside ao Tribunal. As três amigas são inseparáveis. A solidariedade e a lealdade define-as, são cá do no "nosso" Bairro. São excelentes e venerandas pessoas.

Justiça

Falar de Justiça no "nosso" bairro é complicado. É assunto tabu para muitos. A justiça aqui no bairro faz-se no bairro para os dos bairro pelos do bairro. É a "nossa" justiça. Apesar de termos um tribunal no "nosso" bairro, a justiça é feita, decidida e transitada na Tasca, ao som da música do jogo-das-cadeiras regada pelo "vinho da casa". Na justiça do "nosso" bairro há vários intervenientes: a Esquadra, a Repartição, os Janotas, a Arquivadoria e o Tribunal. A cada um o seu papel. Às equipas da Esquadra e à Repartição, cabe investigar o crimes do dia-a-dia do nosso bairro. Naturalmente, que à Repartição cabe assegurar que todos pagam o Tributo, à esquadra todos os outros crimes, do pequeno ao maior. Aos Janotas cabe apresentar trabalho, têm fama de saber investigar, i.e. pegam no trabalho do pessoal da Esquadra ou da Repartição e dão-lhe o enquadramento necessário. Depois temos a peça mais importante do tabuleiro: a Arquivadoria. A esta cabe arquivar, dar o dito por não dito, enviar o postal. Sobre o Postal, um dia escreveremos por aqui. Mas à Arquivadoria compete também o mais importante na justiça do "nosso" bairro: deduzir a acusação. A acusação neste peculiar regime jurídico é muito importante, pois é única e exclusivamente sobre ela que o Tribunal dá parecer positivo (raras são as vezes que o parecer é negativo. Como este "nosso" bairro é de Direito há sempre lugar ao recurso. Há vários tipos de recurso. O recurso para o tribunal da Cidade para aqui não importa, por razões que se conhece, ali a justiça do "nosso" bairro perde sempre. Os recursos que importam no "nosso" bairro são o oficial - raro -, e o oficioso para a Tasca. É na Tasca que se faz a relação dos prós e contras da decisão, influenciada se tomada antes, durante ou depois do almoço. A gastronomia sempre determinou a vida no "nosso" bairro.

O Tributo

Há uma coisa comum a todos os habitantes do "nosso" Bairro. Do mais rico ao mais pobre, todos são sujeitos a pagar tributo. Nem todos pagam o mesmo. Nem o cálculo do mesmo é igual a todos. Há os que pagam muito, há os que pagam pouco. Também há uns poucos privilegiados que são isentos ou se isentaram. A maioria paga um tributo pesado. Por razões desconhecidas, parte do tributo é receita da Tasca. Coisas protocoladas illo tempore. Assim, se justificarão os preços especiais e algumas borlas na Tasca. A cobrança do tributo compete à Repartição. Todos passam na Repartição. Ali há muito respeitinho. Dizem que os funcionários da Repartição tiveram formação especial. Usam métodos e técnicas do "outro tempo". Quem não pagar tributo está sujeito a várias sanções e humilhações.  Na Repartição há muitos formulários e impressos. Nem tudo é mau. Pode-se esquecer de entregar os papeis mediantes multa, não se pode é deixar de pagar o Tributo. Quem paga o Tributo ganha mensalmente uma cautela e pode habilitar-se a ganhar um carrinho. Com a Repartição ninguém brinca. Também há um castigo social, o não tributado tal como os cães, não pode entrar na Tasca.

domingo, 21 de junho de 2015

O Sr. Professor

Na Tasca, ao balcão, há um lugar reservado para o Sr. Professor. É uma pessoa importante no "nosso" Bairro. Ele conhece todos e sabe tudo sobre todos. Mais que uma alcoviteira. Também, já não se sabe qual a cátedra pois, o Sr, Professor comenta todos os domínios e assuntos. Da geoestratégia ao futebol. Da economia às artes e espectáculos. Do Direito às letras. Dos números ao surf. É um filósofo da cultura geral. Um comentador da vida do Bairro, da Cidade e do Mundo. Tudo e todos passam no seu crivo e estão sujeutos ao seu parecer.  Dizem que não gosta de sopas frias. Alguns vêem-no como o próximo barman, pois ao balcão há muito que não se conhece cliente tão fixo.

As Ruas que Ninguém visita

No  "nosso" Bairro há ruas que ninguém visita e que a maioria ignora. Uns ignoram que existem tais ruas, outros sabem mas não querem saber ou têm medo de lá ir. Algumas ruas, alguns ilustres do Bairro, só visitam com companhia da Polícia. São ruas feias e sujas mas populadas. Têm gente que lá nasceu, vive e morreu. A maioria é honesta, trabalhadoras nas casas das outras ruas do bairro. Algumas até servem as melhores famílias do "nosso" bairro. Nasceram do lado errado da rua. É algo que os condenou - embora a ideologia dominante, diga sempre que foi e é uma escolha -. Escolheram ser pobres e miseráveis. Uns sim, alguns entregaram-se aos vícios da bebida, da injecção, do snifar ou da preguiça. Para alimentar tais vícios uns vendem o corpo, outros a alma. Perdidos da vida, em ruas que ninguém quer visitar mas que o mal e a inviabilidade frequentam. Na Tasca a entrada de cães e de tais gentes é proibida.

Domingo

Domingo é dia de missa no "nosso" bairro. Um bairro católico. Onde há várias missas, igrejas e capelas. Mas a igreja-matriz na praça central é onde se "vai à missa". Aí, a elite do Bairro realiza as suas missas (em especial a das 11h ao Domingo), se confessam, comungam, casam e velam. São sacramentos. Ali se cultivam virtudes e expurgam pecados. É a fé na vida além da morte, onde o julgamento nos pode esperar. Embora, por vezes, os pecados batam à porta, na Igreja e, em especial, aos Domingos, as virtudes e a paz voltam ao "nosso" Bairro. A vida quotidiana,  independentemente dos seus pecadilhos, tem os seus momentos sagrados. Mesmo a Tasca fica à sombra da Igreja-matriz.

O Grande Bazar

O Comércio no "nosso" Bairro é muito rico e marca as ruas do local. Na praça Central temos o Grande Bazar, um centro comercial de 2 andares, com escadas rolantes, lojas de todas as marcas e produtos. No R/C um hipermercado com descontos e cartões, no 1.º andar as lojas de roupas e sapatos, aqui os cidadãos do bairro, mais vanguardistas, compram o vestuário igual à modas dos restantes bairros da Europa. Isto, quando não vão (ou não podem) ir às compras aos outros Bairros, isso sim, sinal de riqueza e chiqueza. Mas também é muito prático ir ao Grande Bazar, tem parque de estacionamento subterrâneo e no 2.º andar os restaurantes com comida tradicional ou de plástico. É funcional, dá jeito. Aos sábados o "dress code" é informal e desportivo, preside o fato-de-treino. Aos domingos é mais chic, muitos dos paroquianos aproveitam o estacionamento, para irem à missa das 11h00 ali na Igreja-matriz e depois, irem ao almoço de família. As compras, fazem-se todos os dias. A bebida da casa, os salgados e os boatos, tomam-se na Tasca.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Geografia

Ruas, ruelas, arruamentos, becos, sítios e locais definem a geografia do "nosso" bairro. Mas também, avenidas, alamedas e rotundas. É um bairro médio de tamanho nesta Cidade, embora goste de se "vender" como pequeno e acolhedor. Férias, feriados e fins-de-semana, os restantes habitantes da Cidade vêm para aqui passear, não serão os jardins nem os museus (raros) que os atraiem.  São outros os motivos. Mas não são os motivos que levam os turistas ao Bairro dos Baixios, afamadas que tem as ruas de montras e lanternas encarnadas. Aqui, vêm os turistas pela sardinha e pelo vinho da casa, pela simpatia das gentes. No meio de tudo isto, temos o centro e o coração do bairro: a praça central, onde a Tasca preside a vida e as gentes do "nosso" bairro.

O Presidente da Junta

O Presidente da Junta do "nosso" bairro, é o Sr. Dr. Pedro Conejo dos Lobos. É político desde pequenino. Começou na Juve dos Citrinos e hoje manda na secção do "nosso" bairro. Manda, mas não é o líder, esse é e será sempre o Sr. Múmia o gerente da Tasca. Aliás, foi ao balcão da Tasca que ganhou o gosto pela política, de início ao sabor dos rebuçados de laranja e depois pelas bejecas loiras oferecidas pelo Sr. Múmia nas suas famosas rodadas gerais. Agora, Pedro dos Lobos já bebe e come sentado à mesa, desde que foi para ali convidado pelo seu Padrinho. É uma mesa humilde mas farta, onde nunca faltou nada.
O Pedro dos Lobos é muito conhecido pela suas verdades. É algo que lhe vem do tempo das bejecas e da Juve. Quem com ele trabalhou sabe o que espera do Pedro. Ele é um verdadeiro amigo, nunca abandona os amigos certos, como nunca foi abandonado por certos amigos. Ele é um homem de contas certas.
É um homem de uma certa cultura. Até sabe cantar. Também é bom argumentista. 
Os malandros da oposição chamam-lhe de "o esquecido", mas são coisas do passado. Parece que se esqueceu de entregar uns papeis, coisa pouca. A ele só importa o presente e o futuro. Sem ele o bairro já não existiria. A sua convicção é forte. Sente-se um "escolhido". Foi-o.

A Festa

Cá no "nosso" bairro todos gostamos de Festas. Desde que tenha música e salgadinhos estamos lá batidos. É que com a crise não há nada como umas borlas, e ainda para mais podemos ir acompanhados. E mesmo que a comida seja o porco assado do costume, as entradas são ótimas. Agora, andam para aí aborrecidos com a Festa de Arromba que houve ontem. Era uma festa merecida, juntaram-se duas empresas da Junta. No fundo é esse o papel da Junta, juntar o pessoal, fazer festa. Se assim não fosse a vida cá no "nosso" bairro poderia ser triste. Que não é! Tristes são aqueles que ficam pelos becos e pelas ruelas do bairro a queixarem-se. São uns quietinhas, não sabem vir à Festa e comer salgadinhos. Todas as semanas há uma Festa. Estamos em ano de eleições para a Junta. Mesmo sem convite podemos ir às festas. É uma questão de sermos espertos, se não somos nós o convidado, um dos nossos primos há de ser. Senão, fazemo-nos. A quem não consegue entrar na festa, podemo-nos refastelar com as sobras, basta ser amigo do pessoal da Junta. Não são? Problema vosso! Cambada de preguiçosos... Aqui no bairro há que trabalhar para as "amizades". São elas que nos garantem lugar na Festa.

A característica dos nativos

Um dia veio um estrangeiro visitar o bairro. Aliás, há muito que os estrangeiros e os cidadãos de outros bairros gostam de vir ao "nosso" bairro fazer estudos sociológicos. Terá a ver com as idiossincrasias dos locais. Uns descobriram que além da boa cozinha e da simpatia típicas do bairro, também há "a" característica das gentes do "nosso" bairro. É uma característica que tem de ser observada com algum cuidado e atenção. Implica alguma imersão junto dos nativos, tal como numa investigação antropológica com método. Os nativos do "nosso" bairro padecem de uma característica comum: a displicência orientada por resultados particulares. Isto é, não é uma indiferença per si. É algo vivido culturalmente, social e profissionalmente, activado de forma consciente com um pragmatismo único - que no bairro se apelida de "desenrascanço" - com fins individuais e pessoais. Porém, a singularidade desta displicência é que funciona em comum, isto é, apesar de ser orientada única e exclusivamente por razões particulares, adapta-se a um sentido comum de forma invulgar. Apesar de individualistas e "egoístas" os nativos do bairro são capazes de numa sintonia invulgar, agir como um cardume. Nesse sentido gregário funcionam duas outras características antropológicas: a rivalidade (em especial, a relativa aos outros bairros) e o estigma do "bode expiatório". Assim, corre a vida no "nosso" bairro.

A política do Bairro

No "nosso" bairro também há políticas as da Junta, as das instituições e organizações do Bairro. Todas passam na Tasca, em mesa ou ao balcão, as políticas são todas iguais no "nosso" bairro.
As políticas do Bairro são representadas por quatro facções. A primeira - que neste momento governa a Junta - são o partido dos Citrinos, são os que há mais tempo estão no poder, têm como seu líder histórico o Sr. Múmia e uma ideologia mais conservadora. Depois temos o partido das Flores, dizem-se progressistas, são o partido mais antigo, embora com mais anos de liderança da oposição, tem vários líderes históricos: o Sr. D. Bucca, o Sr. Eng. Plato - mais conhecido por "44" - e tem como actual líder o Sr. Dr. Perne. Também, temos os modernistas do partido K7, liderado pela família Cassete. Por vezes, o partido K7 divide-se em pequenas facções o +K7, o Moderníssimos, e os K7 modernos, a liderança é colectiva e encontra-se na mesa do canto da Tasca. Finalmente, temos uma facção sem partido, os do contra, é uma facção composta por várias individualidades do bairro, umas mais conhecidas outras que desejam ser conhecidas. As politicas influenciam os negócios do bairro, mas também os negócios influenciam as políticas. Tudo o que se passa no bairro é decidido na Tasca à sombra da torre sineira da Igreja Matriz.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Um Banco no Bairro

O "nosso" bairro é pequeno, dizem que é pobre, mas tem muitos bancos. E não só de jardim. Um dos bancos, era um banco familiar, pertencia aos Santo-Silva, uma família de cambistas que veio aqui para o bairro há uns 100 anos. Nos tempos perturbados dos anos 70~80, estiveram fora, uns mudaram de bairro outros de cidade, mas voltaram e tomaram conta do banco com o nome da família. Com o desenvolvimento do bairro dentro da Cidade, fruto dos subsídios e negócios camarários e da junta, o banco cresceu. Os negócios dos Santo-Silva também. Aos negócios da banca, juntaram-se outros. Criou-se um grupo de negócios de todo o tipo, por todos os Bairros da cidade e por outras cidades. Era um grupo grande e, diziam, forte. Tal como o grupo, também a família cresceu. Já são muitos primos, uns Doce outros Acido. Um dia os primos zangaram-se. Um dos Acido denunciou um dos Doce. Já se sabe, casa onde todos ralham e acham que têm razão, deixa de haver pão...

O pessoal cá do bairro

A população do "nosso" bairro é muito diversa. Tem muitas origens étnicas, sociais e culturais. É uma característica, tal como a gastronomia e a bonomia. Tanta diversidade reflecte-se na fisionomia da malta. Por alguma razão é um bairro muito visitado. Vêm cá muitos turistas de outras cidades e de outros bairros. Há quem diga que está na moda. A verdade é que cada vez mais temos visitantes e alguns ficam por cá. Cada vez mais. É a tradição. O que é bom, pois por aqui ter filhos já passou de moda. Ficam-nos os migrantes. Cá a malta conquista-os pela barriga e pelo bem receber. Tratamos bem os que nos visitam. À vezes, o pior é como tratamos os que de cá são. É que a galinha da vizinha é mais gorda. Assim, dá-se preferência ao que vem de fora, desde que não venham do bairro vizinho, é que os ventos trazem maus cheiros...

A família Cassete

Uma família muito conhecida no "nosso" bairro são os Cassete. Os Cassete são uma família de origem proletária, mas hoje tem muitos distintos professores.  A família Cassete é conhecida pelas suas zangas, discussões e protestos. É-lhes reconhecida a arte do boicote. Quando não gostam de alguma coisa, boicotam. Sejam o preços das lojas, a origem dos produtos ou as taxas da Junta. Os seus protestos acabam sempre em confusão, em especial entre eles. É que os primos e irmãos Cassete, raramente estão em acordo. A única coisa que têm em comum é dizer mal da Junta, da Cidade e da Tasca. Se é para dizer mal, eles são sempre solidários. Os Cassete são muito viajados e têm família nas Cidades deste mundo fora. No entanto, encontram-se sempre na Tasca, até há uma mesa - no canto - reservada para a família.

O novo Pároco

O "nosso" bairro tem um novo pároco. É o Pe. Francisco. Não é cá do Bairro, nem mesmo da Cidade. Veio de fora. De longe. Dizem que é um padre moderno, um Pastor preocupado com as suas ovelhas, com o futuro da Igreja e da Cidade. É humilde, pelo menos não anda de Mercedes como o anterior que fugiu depois de um escândalo com um rabo de saias, ou seria de acólito? Quem sabe não conta, são assuntos particulares. O que interessa é que haja Missa e Catequese. O Centro Social, continua a laborar nas traseiras da Igreja, nunca deu tanta sopa como agora. São os tempos que vivemos.

Rua d'Luxo

Na cidade Europa há uma rua pequena, mas muito conhecida. É uma rua antiga, tradicional, com lojas e apartamentos de luxo. A maior parte dos negócios naquela rua são bancos e  escritórios de advogados. Nos apartamentos vive gente da alta, com dinheiro. Na sua maioria têm empregados internos: chauffeurs, concierges, femmes de menage, etc (tudo em francês porque é "chic"). A maioria dos empregados é gente cá do "nosso" bairro. As gentes cá do "nosso" bairro é conhecida por ser trabalhadora e honesta.

A Comunicação Social

Há quem diga que o "nosso" bairro é pequeno e pobre, mas tem rádios, jornais e até tem canais por cabo. Desde que veio para aí o serviço do "Neo" todos têm um canal de TV.  Uns publicam histórias, outros estórias cá do bairro. Umas mais próximo dos factos outras mais imaginadas. O que importa é publicar. Os editores e jornalistas frequentam todos a Tasca do "nosso" bairro. É na Tasca que se trocam informações, estórias e nomes. Nas mesas dos cantos, muitas vezes, são escritas as prosas e os poemas a publicar no dia seguinte. Na Tasca a TV está sempre ligada, o Sr. Múmia gosta e controla o som com o comando. Nunca troca o canal, ouve-se sempre o mesmo, excepto em dia de bola, que a Tasca é moderna e subscreve o "SportChannel".

A Europa

A Europa é uma cidade muito especial. É recente, há 200 anos ainda havia bairros a baterem-se uns nos outros, depois lá se uniu a Autarquia após as I e II grande pancadarias, tudo por causa das marchas. Enfim, é gente que leva a sério as marchas populares. Agora, a cidade tem um Município que decide a cor das fardas, o tom das músicas e os percursos, tudo bem regulamentado, não vão os populares andar à pancadaria. Claro está que uma certa rivalidade é mantida, dá jeito para as eleições, dizem... É que as lógicas partidárias se sobrepõem aos bairros, tal como cá no "nosso" bairro a vida é decidida na Tasca e não na Junta ao som da música do "jogo das cadeiras" e regada pelo "vinho da casa".

Agitação

Na cidade Europa, andam muito agitadas as gentes. Não que incomode muito a vida pacata do "nosso" bairro. São coisas do bairro dos Helenos, dizem. Quem anda preocupado são os grã-finos da alameda dos Teutónicos. Deve ser coisas de dívidas antigas. Por cá, os cofres estão cheios, assegura-nos o Sr. Presidente da Junta, o Pedro dos Lobos, e a tesoureira da Junta a Menina Trocas.

Localização

A tasca está muito bem localizada. Entre a Junta e o Centro de Saúde do "nosso" bairro. E mesmo em frente à Igreja. O novo pároco, o Pe. Francisco ainda não entrou na tasca. Dizem as más linguas que não gosta da localização da tasca, mesmo em frente ao adro. A procissão ainda não começou e já há clientes na tasca. Há sempre filas no Centro de Saúde, uns quantos madrugadores que acampam, sabe-se lá porquê, junto à porta aproveitam para ir à Tasca abastecerem-se e aliviarem-se da espera.

Bairrismo

Lá no Bairro sempre houve muita rivalidade com o Bairro dos Helenos, dizem que começou quando começaram as Marchas. Se bem que os bairros nunca conseguiram mais do que lugares no fim, sempre competindo pelo último lugar. A Marcha do "nosso" Bairro há muito que é liderada pelo Sr. Múmia, umas vezes como gerente da Tasca (um dos patrocinadores) outras como destacado membro da Junta que, hoje, tem ao leme o Pedro dos Lobos. O Sr. Múmia não gosta de Epopeias clássicas ou lusas, sempre foi mais dado aos números. A Sra. D. Múmia é que leu as Tragédias Gregas. Dizem as más línguas que a Junta - do Bairro dos Helenos - está falida, não sabem fazer contas à moda do "nosso" Bairro. Aqui no "nosso" Bairro, nas contas da Junta, entram os créditos à Tasca do bairro.

O Sr. Múmia (07/06/2015)

O Sr. Múmia, é um figurão lá do bairro, não é o dono da Tasca (esse é da família do Tuga, mas emigrou pra França há mais de 50 anos), mas em mais de 30 anos que não se conhece outro gerente. Parece que é reformado da banca e que deu para aí umas aulas, mas as má-linguas, dizem que foram daquelas dos fundos comunitários: invisíveis e sem interesse. É casado, tem filhas e netos, estão todos muito bem instalados na vida do Bairro. O genro é DJ e organiza as festas lá do Bairro. A Sra. D. Múmia, foi professora primária, amiga da meninas dos seis olhos. O Sr. Múmia nunca vendeu nada a fiado. negócios conhecidos só aquele muito discreto com o "Jocas". A família Múmia deixa a sua marca no bairro. Corre o boato que um dia o Presidente da Junta, o Pedro dos Lobos, vai dar o nome do Sr. Múmia à rua da Tasca.

O primeiro Post (06/06/2015)

Entram o 44, o Chamuça, o Pedro e a Catherine na Tasca, o Barman é o Múmia, sentados ao balcão estão a Arquivadora, conhecida "pega, feia, gorda, invejosa" lá do Bairro, e o Justiceiro em amena cavaqueira, bebendo bejecas e a engolipar tremoços. Vêm todos para a festança. Lá ao fundo, os irmãos Cassete, que não se misturam, ficam na sua mesa a jogar à bisca. Todos bebem do "vinho da casa".
Vêm todos pelo Funeral do Tuga, pobre coitado que morreu de Tubercula depois de anos a trabalhar por tostões. A festança começa com o conhecido jogo da cadeira. Apesar de ter morrido cheio de dívidas, dizem - as más línguas- que deixou escondido um cofre cheio...